DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

À margem do rio. (lembranças de Baturité)


Gracinda Calado

O rio passava ao lado de nossa casa. Ele já fazia parte de nossa vida. Ao acordar ouvíamos o barulho que vinha de lá e o seu gemido era de dor e desespero. A violência das águas nas pedras jogava-as nas alturas, como se fossem subir ao céu.
Quando a chuva chegava, o volume das águas aumentava e ia destruindo tudo pela frente. Muitos animais eram arrastados pelas correntezas, pessoas se acidentavam caindo nas pedras, e em outras situações houve casos de mortes.
Apesar de tudo o espetáculo era majestoso! Quem não gostava de apreciar a natureza fazendo festa a qualquer hora manifestando sua força e coragem! Crianças afoitas se jogavam nas águas barrentas do rio, e desesperadas se agarravam a qualquer coisa para não morrerem.O pontilhão da estrada, que passava sobre o rio, ficava coberto de árvores e galhos, pedaços de madeiras que desciam das encostas das nascentes, vindos da serra, e outros que se amontoavam em diversos lugares do rio enrolados em cipós, arames, bambus, tragicamente davam proteção aos ‘corajosos’.
Havia épocas em que desfrutávamos dos banhos como praias de areias brancas, e os frutos maduros caiam do pé dentro do rio e nós nadávamos até eles para disputar “quem primeira chegar ganha a fruta madura”. Todos se interessavam para saborear os cajus vermelhos caídos do pé. Sem falar nas manguitas amarelas, cheirosas e doces, das árvores plantadas às margens do rio das Lages.
Na época de águas baixas, a pesca do camarão animava as crianças para a pescaria, depois os coitados eram assados e comidos no mesmo lugar do abate. Tempo bom aquele, em que tudo se fazia na natureza e não destruíamos seus valores, pois tudo era observado pelos nossos pais.
No tempo de férias convidávamos os colegas para as brincadeiras no sitio, os banhos de rio, a caça aos passarinhos, e a gostosa pescaria de camarões.
Quantos sonhos passaram por nós, quantas gargalhadas, quantas brincadeiras, quantas alegrias encheram de emoções nossas vidas!

domingo, 27 de janeiro de 2013

DIÁRIO DA NATUREZA


Gracinda Calado

Todos os dias a mesma coisa.

O sol torna a brilhar e envolver a natureza com sua luz e seu calor! O céu prateado de estrelas nas noites enluaradas, continua inspirando aos poetas amantes da natureza cálida o romantismo de seus versos!

Nas janelas abertas o vento sopra enchendo de vida o coração dos homens, debaixo de sua sombra imperceptível.

A natureza em festa anima-se com a música dos pássaros e o amor de Deus aos poucos vai chegando no coração dos homens. Em tudo existe Deus: na flor que se abre ao vento, nas águas cristalinas do riacho, na grandeza do sol, na força dos homens que correm em busca de seus trabalhos, na ingenuidade das crianças, no perfume das flores e na incondicional vontade de viver.

Como resistir ao encanto da chuva caindo em gotas mágicas e molhando tudo sobre a terra, alimentando as plantas e encharcando o solo para animar a vida e o planeta!

Ah! O Planeta terra! Maravilhosa criação da natureza e testemunha impar da criação de Deus! Nossa morada castigada e conduzida ao caos pela seca que assola o tempo, a terra árida, o chão vazio e a falta de chuvas do Nordeste brasileiro!

As adversidades do globo trazem reflexão a todos os que do planeta se esquecem, maltratam e abandonam. Os animais vítimas da fome que assola a terra e seca os rios e açudes da região!

Quem dera hoje nesse dia se ouvisse o ronco dos trovões, a luz dos relâmpagos e o cheiro de terra molhada, enquanto os rios corressem em desatino em busca do mar e alimentasse e matasse a sede dos homens trabalhadores e dos animais que ainda restam cambaleando para a morte! O destino de tudo se espalharia na amplidão do cosmos em festa e a alegria encheria a alma dos que sofrem no dia a dia, e aconteceria a virada natural da natureza! CHUVA!!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O RIO QUE CORRE EM MEU CORAÇÃO


Gracinda Calado

Com os pés mergulhados nas águas do rio que vagarosamente corria sobre as pedras, eu ficava ali horas a fio sentindo o frescor da manhã, além de sentir a presença inconfundível de Deus!

Ao olhar as águas que corriam sem medo e sem tempo para correr, ouvia o canto das águas baixinho como cantiga de ninar, animando o meu coração refrescando os meus pés e a minha alma, sentia uma paz tão grande e um enorme equilíbrio na natureza que rodeava as margens do rio.

Vários galhos de árvores frutíferas caíam suavemente nas águas, como uma união entre a terra e o rio.

Os pássaros cantavam gorjeios maravilhosos, difíceis de se esquecer. Aquele era o momento mágico para um balanço do real, verdadeiro caminho da vida, também de projetar novos conceitos para viver bem. Novas reflexões surgiam embaladas pelo perfume das flores que desabrochavam nos galhos das árvores.

De longe eu avistava na outra margem do rio, mulheres lavadeiras que iam todos os dias lavar as roupas dos patrões da cidade. Apreciava o vai e vem das lavadeiras, batendo ou estendendo as roupas nas pedras, depois de tirar-lhes a sujeira toda. À tardinha elas levavam de volta a mesma roupa, já limpinha e perfumada.

Assim era a minha alma, quando eu voltava para casa, ela estava limpa, transparente, tranquila como as águas daquele rio que passava debaixo das árvores.

Muitas vezes voltei àquele lugar para novamente viver os momentos maravilhosos que a natureza sempre me proporcionava!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

CARNAVAIS DAS SAUDADES EM BATURITÉ


GRACINDA CALADO

QUANDO TOCAM OS CLARINS, NOSSO CORPO EXTREMECE,

AS CANÇÕES SOBEM NOS ARES COMO PRECES DE SEMIDEUSES

APAIXONADOS, ENCANTADOS PELOS SONS QUE TOCAM CORAÇÕES,

OU SAEM DOS GRITOS ESTONTEANTES DOS FOLIÕES.

ENTRAM NO PASSO E NO COMPASSO DA MULTIDÃO,

OS ENAMORADOS DA MÚSICA QUE ENLOQUECE E APAIXONA;

O PIERRÔ E A COLOMBINA SURGEM E DESFILAM NO SALÃO,

AO SOM DA MARCHA CADENCIADA, DO FREVO E DA AGITAÇÃO.

O PEITO EM BRASA E O SANGUE EM PLENA EFERVESCENCIA,

CORRE ACELERADO NAS VEIAS, COMO RIOS CAUDALOSOS,

AGITANDO O CORPO INTEIRO EM MÁGICA EBOLIÇÃO,

ESPERANDO QUE A NOITE SE TRANSFORME EM SONHO E EMOÇÃO!

O PIERRÔ PROCURA A COLOMBINA, NO MEIO DA MULTIDÃO,

AGITANDO SEU MANTO DE SETIM COM PURPURINAS, PAETÊS,

E ORGANDYS, FAZENDO INVEJA AO ARLEQUIM SOLITÁRIO QUE

GRITA E CANTA A MELODIA DO BLOCO DA SOLIDÃO.

CARNAVAIS DAS SAUDADES, DOS TEMPOS DA MOCIDADE,

LEVAM LEMBRANÇAS ETERNAS DOS PALHAÇOS E DOS BONECOS,

DOS SACIS E DOS CURUPIRAS QUE VIVEM NAS GRANDES MATAS,

RENASCE A CADA ANO A MEMÓRIA DE NOSSA LINDA CIDADE.

SAUDADES DOS BLOCOS DOS SUJOS NAS RUAS E NAS PRAÇAS;

CARNAVAIS DOS AMORES, DAS PAIXÕES ACELERADAS,

DA QUARTA- FEIRA DE CINZAS, NAS RUAS E MADRUGADAS,

ARRASTANDO FANTASIAS DOS TRÊS DIAS DE FOLIAS.

CARNAVAIS DAS SAUDADES DOS AMORES QUE SE FORAM,

DAS LANTEJOULAS E SERPENTINAS, DOS LAQUÊS, DOS BORDADOS,

DAS MÁSCARAS E DAS COLOMBINAS, COM SEUS VESTIDOS DOURADOS,

DEIXAM SAUDADES ETERNAS DOS CARNAVAIS DO PASSADO!







segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O MEU PASSADO ESTÁ NO MEU PRESENTE


Gracinda Calado

O meu passado vive sempre no meu presente.
Nas manhãs, quando o sol derramava sua luz, cor de ouro, como fazia nos jardins floridos de minha terra, eu me iluminava com o brilho de seus raios!
A água cristalina dos rios descia banhando as cordilheiras verdejantes das encostas da serra cobertas de flores silvestres, deixavam um perfume de mato verde sobre as colinas.
Nos arvoredos os pássaros coloridos e cantadores, saltavam de galho em galho, numa alegria louca à procura de seus filhotes.
Às margens das estradas, numerosas barracas deixavam à amostra variedades de frutas para vender aos que ali passavam.
O sabor e o cheiro do mel que escorria pelos cantos da boca, verdadeiro alimento dos deuses, oferecido pelas abelhas, adoçavam a nossa vida de criança.
Nos quatro cantos da serra de Baturité, o silencio chegava devagarzinho preanunciando o vento que passava rasteiro e logo o dia ia morrendo entre as árvores mais antigas e entre os bambuzais que se entrelaçavam pela força dos ventos da noite.
O cheiro de saudade anunciava a energia daquele lugar onde voltamos para ver e onde passamos horas de quietude e solidão, olhando tudo e sentindo tudo como antigamente...
As lembranças de minha terra encheram meus olhos de lágrimas e meu coração de saudades, uma sensação boa das lembranças do passado, como se o presente houvesse roubado a cena.
Chegou à hora de partir, mas levarei para o meu presente e meu futuro o meu passado fantasiado de vida e de emoções!



quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS DA MINHA TERRA

Gracinda Calado

Que prazer em ler e reler o livro: “O CEARÁ SEMPRE ESCUTARÁ”, do conterrâneo Dr. Almir Gomes Castro, quando ele fala das coisas engraçadas dos anos sessenta em Baturité.

Lembro-me bem do cine Odeon que ficava em uma pequena travessa e gozava de maior movimento da cidade. Ri ao lembrar-me dos filmes antigos, dos clássicos do cinema que ficávamos até quase meia noite esperando que o Sr Rubéns consertasse a fita por várias vezes a fim de concluir o enredo do filme.

Certa vez pedi ao nosso pai, eu e minha irmã Tarcilia, pai severo e disciplinado com a rigidez de quartel, para irmos ao cinema, pois não queríamos perder aquele filme que era comentado na cidade como ‘um espetáculo’; ele, papai marcou a hora para nossa chegada, 10horas. O filme quebrou a fita tantas vezes que quando olhamos para o relógio era precisamente meia noite!

Para nossa surpresa, com as sandálias nas mãos e não nos pés, entramos devagarzinho para não fazer barulho, papai pigarreou e disse: “isto é hora de chegar de um filme?” Quase caí para trás. Minha irmã tremia como vara verde. Papai nos chamou atenção dizendo : “Amanhã conversaremos a respeito desse filme”.

Dia seguinte ficamos mais um pouco na cama, vestimos várias anáguas que era uso da moda, para que, se ele ousasse usar o cinturão já estávamos prevenidas.

Nossas pernas tremiam e falamos com papai para pedir-lhe a bênção durante o café da manhã.

Ele olhava para mim dizendo :”O que houve no cinema”? Criei coragem e disse “a fita quebrou-se 10 vezes. Ele parecia não acreditar, continuei a contar alguma coisa como o enredo do filme, o nome dos artistas, as pessoas que estavam na plateia etc.

Minha irmã não abria a boca e papai insistia: E você o que diz disso? Ela tremendo respondeu: ”Didi já disse tudo”. Finalmente ele recomendou que se na próxima vez a fita quebrasse, devíamos sair e vir embora, caso contrario não deixaria mais a gente ir para um pulgueiro onde tinha o nome de cine Odeon.

Escapamos e depois de tudo só risos e risos...

Obrigada pelo presente desse livro, meu amigo e primo João Mascarenhas da Rocha!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

NO CORAÇÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


GRACINDA CALADO

Subindo a serra de Baturité rumo a Guaramiranga o clima vai amenizando o calor e uma brisa gostosa nos envolve fazendo-nos sentir o abraço carinhoso da natureza.
Enquanto caminhamos em caracóis pelos caminhos, a vista deslumbrante da serra em cordilheiras nos presenteia com um belíssimo espetáculo.
Árvores gigantescas seculares que envolvem seus galhos em outras árvores como abraço, árvores que derramam seus ramos como chorões caídos fazendo cortinas verdes, árvores que se enfeitam de flores roxas e amarelas como os ypês, árvores que se diferenciam das outras árvores como os bambus que se fecham em moitas grins.
Descendo as ladeiras avistamos o cafezal em flor parece um tapete vermelho coberto de frutinhas e cerração em tempo de inverno.
Na serra temos a impressão que estamos pertinho do céu, até podemos sentir o cheiro de Deus nas gotas de orvalho da noite passada nas manhãs frias.
Descendo os grotões rumo aos sítios e fazendas, avistamos maravilhosos canaviais que serpenteiam as margens dos rios que descem refrescando ainda mais a região. Mais à frente o bananeiral exuberante se apresenta encantando mais ainda nossos olhos.
Nas estradas de terra batida e nos atalhos de caminhos encontramos comboios de vendedores de frutas que vão à feira de Baturité vender ou trocar seus produtos. Pés descalços, roupas cobertas de nódoas dos pomares encharcados de leite que escorre das frutas fazendo manchar suas roupas e eles nem se dão conta de tudo isso.
A casa da fazenda ou do sitio está lá! Lugar privilegiado por Deus e pela a natureza! No coração da serra, testemunha de tanta beleza e de tanta felicidade gratuita.