MADRUGADA
GRACINDA CALADO
OUVI UM BARULHO DO LADO DE FORA DA JANELA, LEVANTEI-ME DEPRESSA PARA ESCUTAR DE ONDE VINHA O RUMOR.
SENTI ENTÃO QUE ERA O VENTO QUE NUMA FURIA LOUCA BATIA NA MINHA JANELA COMO SE QUISESSE ME CHAMAR. DESPERTEI DO SONO E OLHEI A RUA DESERTA; O VENTO VARRIA O CHÃO LEVANDO TUDO QUE PASSAVA EM SUA FRENTE.
FIQUEI AMEDRONTADA, SENTI QUE ELE VINHA DA PRAIA E COBRIA TODA A CIDADE QUE DORMIA TRANQUILA. PORTAS E JANELAS COMEÇARAM A BATER NO SILENCIO DA MADRUGADA, E O REDEMOINHO PASSAVA COM GRANDE IMPÁCTO NAS PAREDES QUE FORMAVAM O CORREDOR DA RUA.
OLHEI NO ALTO DOS PRÉDIOS E SENTI SOLIDÃO. A QUEM EU DEVERIA DIVIDIR O MEU MEDO?
PENSEI NUM GRANDE FURACÃO, NUMA VENTANIA COM CHUVA QUE CAIRIA SOBRE A TERRA EM BREVE. O MEDO CRESCEU, MAS COMECEI A REZAR BAIXINHO.
DE REPENTE O VENTO PASSOU E TUDO VOLTOU QUASE AO NORMAL.
NAQUELA MADRUGADA NÃO CONSEGUI MAIS DORMIR.
NO DIA SEGUINTE O ESTRAGO ESTAVA FEITO: ÁRVORES CAÍDAS, GALHOS PELO CHÃO, O VENTO CARREGOU AS NUVENS PARA BEM LONGE, E LÁ FOI DEVASTANDO AS PLANTAÇÕES E OS CASEBRES QUE FICAVAM NAS RIBEIRINHAS, CAUSANDO PREJUIZOS AOS LAVRADORES E CRIADORES E TRABALHADORES DO CAMPO.
NO MEU CORAÇÃO, SENTI COMO UM PUNHADO DE LIXOS E GALHOS SECOS, FOLHAS SOLTAS NO AR SE DEPRENDIAM LEVADOS PELO VENTO SEM DIREÇÃO. NAQUELA MADRUGADA MORNA, SENTI UM GRANDE VAZIO, E O MEDO PELO BARULHO DAS ONDAS QUE VINHA DA PRAIA NA COMPANHIA DO VENTO SEM DIREÇÃO. A FORÇA DO VENTO BATIA EM MEU PEITO TRISTE.
FOI UMA NOITE DE VENDAVAL, DE SOLIDÃO E ARREPIOS NO MEIO DA POEIRA QUE PASSAVA DESTRUINDO TUDO NAQUELA MADRUGADA.
MUITAS VEZES EM NOSSA VIDA GRANDES VENDAVAIS PASSEIAM NAS NOITES ESCURAS DE NOSSA ALMA E DE NOSSO CORAÇÃO, DESTROEM TUDO COMO PARA LIMPAR AS IMPERFEIÇÕES DE NOSSAS ATITUDES E DE NOSSOS PENSAMENTOS. NA SOLIDÃO DAS NOSSAS MADRUGADAS AINDA TEMOS TEMPO PARA PENSAR, ENQUANTO O VENDAVAL PASSA LEVANDO TUDO.
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