DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

segunda-feira, 30 de março de 2009

EU QUERIA SER UM PÁSSARO


Eu queria ser um pássaro
Gracinda Calado

Queria eu ser um pássaro com grandes asas azuis, eu voaria aos céus para falar com os anjos e nas estrelas faria meus ninhos.
Desceria até as nuvens e de lá avistaria a terra quase toda coberta de águas cristalinas.
No imenso espelho das águas pousaria e lavaria minhas asas depois as secaria ao sol.

Pássaro que foge ligeiro das intempéries dos ventos e dos raios; cansado de voar, pousaria no chão verde das florestas tropicais!
Se eu fosse um pássaro te levaria comigo ao pico mais alto das montanhas ensolaradas para cobrir-te da graça de te fazer feliz e juntos construiríamos ninhos de plumas douradas e todas as vezes que os raios de sol aparecessem o brilho beijaria teu sorriso!

Se eu fosse um pássaro voaria da minha janela para a liberdade!
Se eu fosse um pássaro convocaria todas as aves do céu para levarmos a justiça e a misericórdia aos corações magoados e sofridos, juntos faríamos uma grande corrente de amor.
O amor que mora nos páramos dos corações que sabem como os pássaros alçarem vôos altos em todos os momentos de suas vidas.
Que o vôo do pássaro traga um raminho verde como símbolo da esperança e da fartura que há na terra e nos corações onde impera a paz e o amor.

quinta-feira, 19 de março de 2009

CHOVE NA MINHA CIDADE


CHOVE NA MINHA CIDADE
Gracinda Calado

Chove na minha cidade e no meu coração!
A chuva chega devagarzinho, vai cobrindo tudo de um cinza claro ocultando a visão real da paisagem.
A chuva fina deixa uma saudade na gente, de uma tranqüilidade que em outras épocas vivíamos de pés descalços andando no molhado e nas biqueiras dos telhados.
Nosso caminhar enlameado deixava marcas em nossos pés encharcados.

Quando a chuva chega pela manhã, deixa-nos preguiçosos de acordar.
Gostoso é ficar debaixo dos cobertores até o sol sair.
Nas árvores não se ouve mais os “bentevis e os galos campinas” soltando seus gorjeios matinais.
Eles ficam encolhidinhos entre as folhagens ou dentro dos ninhos aquecendo suas asas. Sinto saudades do passarinho que todos os dias cantava na minha janela.

A chuva chega molhando a terra e nossa alma com a água límpida da saudade dos prazeres infantis, dos dias de brincadeiras nas ruas da cidade, dos banhos de rio, dos milhos verdes, dos maxixes e dos quiabos com jerimum nas mesas dos nordestinos.

Chove na rua e em nosso coração a saudade de um amor antigo, os encontros no portão ou no banco da pracinha debaixo da chuva fina molhando todo nosso corpo.
Gotas dágua cristalinas saciam a sede e enchem os olhos de lágrimas preciosas como as gotas de orvalho dos jardins.
Chuva que cai e lava tudo que ficou para trás marcado de cicatrizes e feridas, se confundem com os beijos molhados dos casais apaixonados.


quinta-feira, 12 de março de 2009

A RUA, A PRAÇA, O JARDIM


A RUA, A PRAÇA, O JARDIM.

Gracinda Calado

Passo na rua da minha cidade,
Meus pés caminham encharcados pelo orvalho da noite que passou.
Atravesso a praça dos amores, que outrora eu vinha
Declarar minha paixão e meu amor.
Ainda ouço a música que toca verdadeira, igual àquela que
Em outras ocasiões tocou.

A grama molhada deu-me a impressão
Que as lágrimas da noite foram derramadas na madrugada.
Um raio de sol surge alimentando a alma da gente.
Uma flor se abre no jardim da praça, tão alva como algodão.
As pessoas passam como sem dar atenção,
Que ali uma história aconteceu outrora com alguém.

Tento sorrir, tento chorar com minhas lembranças,
Em vão soluço o pranto que já se foi...
Minha alma chora calada resistente, acalantada,
Ao ouvir plangentes violões na rua da esperança.
Um toque, um sinal, no sino da igreja diz:
É hora de rezar, orar ao Menino-Jesus.

Não sei onde ficaram as lembranças
De um passado bom e bem feliz,
Onde se escondem as recordações e saudades,
Da linda história de amor que um dia acabou,
Sem nenhum sinal, sem despedida, nem beijos,
Sem uma palavra, sem emoção, sem desejos.

sábado, 7 de março de 2009

EXPEDIÇÕES...3ª PARTE




A etapa da Expedição Canudos no Assaré se acaba quanto o “velho moço de quase oitenta e cinco primaveras” se oferece para guia da Expedição. A adesão, além de enriquecer os objetivos, também, serviu para animar os outros expedicionários que nem sequer sabiam como alcançar Canudos - um trecho longuíssimo de trilhas desabitadas e perigosas.
Enquanto Zequinha conduzia o jipe rompendo os obstáculos do péssimo caminho, o ex-guerrilheiro, pacientemente, bombardeado de perguntas, a tudo respondia, rememorava, reconstituía, sempre elevando a personalidade do líder marcante na vida e nos costumes dos sertanejos.
Quando foi perguntado sobre a significação da profecia de que o SERTAO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTAO, Honório tenta explicar o raciocínio do chefe dizendo:

- Ao pronunciar a célebre profecia, o bom homem, sabia o que o mar representava para os matutos. Eles nunca viram nenhum mar. Mas sabem da sua imensidão e dos seus mistérios.

- Que mistérios? Pergunta Osvaldo.

Quem responde a pergunta do cunhado é Pedro Wilson.

- Ora, Osvaldo, esses mistérios, na “parábola” do Conselheiro, faz o sertanejo crer num sertão, hipotética e potencialmente com os mesmos poderes do mar que tudo pode: devora homens, destrói a armada e arrasa cidade.

- Isso mesmo doutor, essa coisa realmente aconteceu, até quando a terceira expedição foi expulsa em debandada – diz Honório encerrado o assunto.
***
Depois de vários dias rompendo trilhas chegou o dia em que, deslumbrado, Pedro Wilson pode fotografar Canudos do mesmo ângulo que, de outra vez, o Arraial foi visto pelas forças federais que vinham arrasá-lo: o alto do Mário.

CANUDOS - OUTUBRO DE 1949 - PANORAMA DA CIDADE DE ENTÃO COLALIZADA COMO A OUTRA À MARGEM DO RIO VAZA BARRIS

Mais tarde, desceram até as ruínas. Pedro Wilson cai em volta das reconstituições das coisas que se deram por ali. Prestar atenção nos subsídios a analisar, pedaços de escombros, restos de pedras, bandas de tijolos, informações de testemunhas ainda vivas, e, finalmente, tudo, que pudesse ajudar a compreender o porquê de tanta morte, entender tanta reza e compreender tanto ensinamento.
Vila Nova reconhece a terra dos caminhos penosos por entre a caatinga. Coisas que para ele representava um passado recente, para os outros, para os outros, as ruínas sepultadas no mato, em apenas meio século, por esquecidas, pareciam tão antigas como túmulos dos Faraós no Egito.
Quando o jipe se aproxima do ex-arraial, o velho expedicionário vai mostrando os lugares onde um monte de taperas, abrigava às vinte e cinco mil almas, trucidadas pelas forças oficiais.
O ex-combatente se emociona quando o carro alcança as ruínas da Igreja Velha. Ali ele casou-se com a prima Tereza Jardelina de Alencar. Foi ela que o tratou, uma vez, quando ferido, num dos pés, foi retirado do entrincheiramento pelo irmão - ela curou a ferida com sumo de pimenta malagueta envolvida em folhas de bananeira.

OSVALDO VINHAS E HONORIO VILA NOVA
EM FRENTE ÀS RUINAS DA IGREJA VELHA, TODA DE PEDRA E CAL. VÊEM-SE CLARAMENTE OS SINAIS DAS BALAS

Benze-se diante do cruzeiro. O mesmo cruzeiro de madeira, agora, cheio de furos de balas, mas, ainda, intacto. O rústico monumento resistia ao tempo, do mesmo modo, que, escapou do arraso das dinamites detonadas.
O CRUZEIRO DA IGREJA VELHA. ESCAPOU “MILAGROSAMENTE” À FÚRIA DOS BOMBARDEIOS,
COM MUITO SINAL DE BALAS DE FUZIL NO MADEIRAME.

Abandonada, mas de pé, a cruz continuava ali, orgulhosa da gente que abençoou e não se entregou. Isso mesmo, o Arraial não se entregou, morreu até o último homem. Ninguém, mais que o velho cruzeiro, assistiu quando o cinco mil soldados do exercito rugiam sobre os últimos defensores do lugar: um velho, dois homens feitos e uma criança.
***
Ao regressar a Fortaleza, a Expedição, montou uma Exposição de Fotografias, Armamentos e Outros Materiais colhidos em Canudos. No mesmo local Honório Vila Nova como testemunha viva da guerra, ficou à disposição de quantos quisessem saber detalhes da sangrenta pagina da História do Brasil. Enquanto os curiosos e pesquisadores a visitavam a exposição e dirigiam perguntas aos expedicionários, Pedro Wilson avançava no resultado do trabalho jornalístico, histórico-sociológico, ponto final do paradigma pejorativo imposto à Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, conseqüentemente colocando-o, definitivamente, no rol das figuras mais ilustres da Historia do Brasil.

HONÓRIO VILA NOVA AO LADO DE PEDRO WILSON
O BOM EX-COMBATENTE QUE MORREU QUASE AOS 105 ANOS DE IDADE, PASSOU A SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE PARA QUEM QUISESSE ESTUDAR O ASSUNTO CANUDOS.

Descoberto por Pedro Wilson, o sobrevivente Honório Vila Nova, três vezes, é citado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, acabou tornando-se o conselheirista mais qualificado para reconstituir a história da Guerra, este herói

Sob o titulo de “ANTONIO CONSELHEIRO E O DRAMA DE CANUDOS”, quais onze capítulos foram publicados no final da década de 1940, em diferentes edições do jornal O POVO, Pedro Wilson, extravasando todo seu talento, de modo pioneiro, e, em desacordo, até, com o pensamento de então, resgata a verdadeira personalidade do líder canudense.

Em toda obra o regalo da veia comunista do autor se manifesta com o entusiasmo que somente os apaixonados por seus ideais sabem expressar conforme um trecho extraído do todo:
“(...) Canudos analisado nos seus profundos aspectos sociais, apresenta-nos o fenômeno autêntico de uma guerra de classe. Foi uma revolta de camponeses vergados sob o peso da opressão em seus múltiplos matizes. Aqueles heróis devem figurar na galeria dos filhos do povo, que tombaram em todas as frentes, lutando por uma vida mais digna e mais humana.”

(*) Bacharel em Direito e Empresário











A etapa da Expedição Canudos no Assaré se acaba quanto o “velho moço de quase oitenta e cinco primaveras” se oferece para guia da Expedição. A adesão, além de enriquecer os objetivos, também, serviu para animar os outros expedicionários que nem sequer sabiam como alcançar Canudos - um trecho longuíssimo de trilhas desabitadas e perigosas.
Enquanto Zequinha conduzia o jipe rompendo os obstáculos do péssimo caminho, o ex-guerrilheiro, pacientemente, bombardeado de perguntas, a tudo respondia, rememorava, reconstituía, sempre elevando a personalidade do líder marcante na vida e nos costumes dos sertanejos.
Quando foi perguntado sobre a significação da profecia de que o SERTAO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTAO, Honório tenta explicar o raciocínio do chefe dizendo:

- Ao pronunciar a célebre profecia, o bom homem, sabia o que o mar representava para os matutos. Eles nunca viram nenhum mar. Mas sabem da sua imensidão e dos seus mistérios.

- Que mistérios? Pergunta Osvaldo.

Quem responde a pergunta do cunhado é Pedro Wilson.

- Ora, Osvaldo, esses mistérios, na “parábola” do Conselheiro, faz o sertanejo crer num sertão, hipotética e potencialmente com os mesmos poderes do mar que tudo pode: devora homens, destrói a armada e arrasa cidade.

- Isso mesmo doutor, essa coisa realmente aconteceu, até quando a terceira expedição foi expulsa em debandada – diz Honório encerrado o assunto.
***
Depois de vários dias rompendo trilhas chegou o dia em que, deslumbrado, Pedro Wilson pode fotografar Canudos do mesmo ângulo que, de outra vez, o Arraial foi visto pelas forças federais que vinham arrasá-lo: o alto do Mário.

CANUDOS - OUTUBRO DE 1949 - PANORAMA DA CIDADE DE ENTÃO COLALIZADA COMO A OUTRA À MARGEM DO RIO VAZA BARRIS

Mais tarde, desceram até as ruínas. Pedro Wilson cai em volta das reconstituições das coisas que se deram por ali. Prestar atenção nos subsídios a analisar, pedaços de escombros, restos de pedras, bandas de tijolos, informações de testemunhas ainda vivas, e, finalmente, tudo, que pudesse ajudar a compreender o porquê de tanta morte, entender tanta reza e compreender tanto ensinamento.
Vila Nova reconhece a terra dos caminhos penosos por entre a caatinga. Coisas que para ele representava um passado recente, para os outros, para os outros, as ruínas sepultadas no mato, em apenas meio século, por esquecidas, pareciam tão antigas como túmulos dos Faraós no Egito.
Quando o jipe se aproxima do ex-arraial, o velho expedicionário vai mostrando os lugares onde um monte de taperas, abrigava às vinte e cinco mil almas, trucidadas pelas forças oficiais.
O ex-combatente se emociona quando o carro alcança as ruínas da Igreja Velha. Ali ele casou-se com a prima Tereza Jardelina de Alencar. Foi ela que o tratou, uma vez, quando ferido, num dos pés, foi retirado do entrincheiramento pelo irmão - ela curou a ferida com sumo de pimenta malagueta envolvida em folhas de bananeira.

OSVALDO VINHAS E HONORIO VILA NOVA
EM FRENTE ÀS RUINAS DA IGREJA VELHA, TODA DE PEDRA E CAL. VÊEM-SE CLARAMENTE OS SINAIS DAS BALAS

Benze-se diante do cruzeiro. O mesmo cruzeiro de madeira, agora, cheio de furos de balas, mas, ainda, intacto. O rústico monumento resistia ao tempo, do mesmo modo, que, escapou do arraso das dinamites detonadas.
O CRUZEIRO DA IGREJA VELHA. ESCAPOU “MILAGROSAMENTE” À FÚRIA DOS BOMBARDEIOS,
COM MUITO SINAL DE BALAS DE FUZIL NO MADEIRAME.

Abandonada, mas de pé, a cruz continuava ali, orgulhosa da gente que abençoou e não se entregou. Isso mesmo, o Arraial não se entregou, morreu até o último homem. Ninguém, mais que o velho cruzeiro, assistiu quando o cinco mil soldados do exercito rugiam sobre os últimos defensores do lugar: um velho, dois homens feitos e uma criança.
***
Ao regressar a Fortaleza, a Expedição, montou uma Exposição de Fotografias, Armamentos e Outros Materiais colhidos em Canudos. No mesmo local Honório Vila Nova como testemunha viva da guerra, ficou à disposição de quantos quisessem saber detalhes da sangrenta pagina da História do Brasil. Enquanto os curiosos e pesquisadores a visitavam a exposição e dirigiam perguntas aos expedicionários, Pedro Wilson avançava no resultado do trabalho jornalístico, histórico-sociológico, ponto final do paradigma pejorativo imposto à Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, conseqüentemente colocando-o, definitivamente, no rol das figuras mais ilustres da Historia do Brasil.

HONÓRIO VILA NOVA AO LADO DE PEDRO WILSON
O BOM EX-COMBATENTE QUE MORREU QUASE AOS 105 ANOS DE IDADE, PASSOU A SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE PARA QUEM QUISESSE ESTUDAR O ASSUNTO CANUDOS.

Descoberto por Pedro Wilson, o sobrevivente Honório Vila Nova, três vezes, é citado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, acabou tornando-se o conselheirista mais qualificado para reconstituir a história da Guerra, este herói

Sob o titulo de “ANTONIO CONSELHEIRO E O DRAMA DE CANUDOS”, quais onze capítulos foram publicados no final da década de 1940, em diferentes edições do jornal O POVO, Pedro Wilson, extravasando todo seu talento, de modo pioneiro, e, em desacordo, até, com o pensamento de então, resgata a verdadeira personalidade do líder canudense.

Em toda obra o regalo da veia comunista do autor se manifesta com o entusiasmo que somente os apaixonados por seus ideais sabem expressar conforme um trecho extraído do todo:
“(...) Canudos analisado nos seus profundos aspectos sociais, apresenta-nos o fenômeno autêntico de uma guerra de classe. Foi uma revolta de camponeses vergados sob o peso da opressão em seus múltiplos matizes. Aqueles heróis devem figurar na galeria dos filhos do povo, que tombaram em todas as frentes, lutando por uma vida mais digna e mais humana.”

(*) Bacharel em Direito e Empresário















EXPEDIÇÃO... 2ª PARTE


Do Tigre a comitiva toma o rumo de Assaré, apoiada na palavra-chave do coletor Paulo Remígio de Freitas, afirmando que, naquela cidade do Cariri, havia, sobrevivo, um ex-combatente da Guerra de Canudos, chamado Honório Villa Nova, o qual, apesar de ter sido membro do estado maior do Conselheiro, convivia no lugar em completo ostracismo.
***
Filhos de José Francisco Assunção e de dona Maria da Conceição, Honório e seu irmão Antonio Vila Nova, nasceram em Assaré, no tempo da guerra do Paraguai. Ainda, eram duas crianças, quando conheceram Antonio Vicente, em 1873, por ocasião de uma passagem do peregrino por aquela cidade.

Reencontraram-se em 1877 quando o pregador resolveu trocar o Ceará pela Bahia, certamente, tangido pela fome da seca que acendeu o êxodo dos cearenses para cafezais de São Paulo e seringais do Amazonas.

Convidado e ungido pelo Conselheiro como chefe temporal de Belo Monte – nova denominação de Canudos – Antonio Vila Nova, com seu tino administrativo, ao equilibrar as finanças e o abastecimento do lugar, até, fez circular, ali, uma moeda muito bem aceita em toda zona de influencia do Arraial, então, o segundo maior pólo produtivo da Bahia.

Ao Antonio Vila Nova competia, também, a guarda do armamento, colhido das forças invasoras vencidas. Isso porque, em Canudos, não se permitia o uso indiscriminado de armas, estas eram distribuídas aos guerrilheiros somente em caso de defesa.

Dono da maior loja de Canudos, rico, dentro dos padrões do sertão, alvo preferido das más línguas, Antonio Villa Nova morava no único lugar de Belo Monte classificável como rua. Nesta as casas eram de tijolo, cobertas de telha, algumas com assoalho de madeira. Bem diferentes, as outras casas, eram de taipa, cobertas de palha, piso de chão batido, erigidas em vielas tortas e becos sem saídas.

Exercendo seu talento sem malquerença a ninguém, os Vila Nova, apesar de depositar confiança na obra física do Conselheiro, pouco se envolviam na sua crença. Na realidade, os dois irmãos, até, nem freqüentavam as devoções, coisa que, aliás, não era obrigatória no Arraial. Foi assim, por serem alheios às crenças dos canudenses, que nos dias entre a morte do Conselheiro e o cerco definitivo, o clã dos Villa Nova, sai do Arraial a tempo de escapulir da chacina. Muito embora tivessem brigado até quase o extermínio total, eles regressam definitivamente para seu torrão, onde envelheceram sempre falando bem do pai Conselheiro.

Residentes em Assaré, Antonio e Honório, ajudaram o padre Cícero, em 1913, por ocasião da Sedição de Juazeiro.
Foi da cabeça de Antonio Vila Nova, que sauí a idéia da construção do valado em volta da cidade, que, estratégico, serviu de trincheira para, os jagunços do Santo Padre, rebater as forças do governo de Franco Rabelo aquarteladas no Crato.

***
Quando a expedição de Pedro Wilson chegou a Assaré teve uma acolhida incomum da parte de Honório e de dona Toinha, viúva de Antonio Villa Nova. Esta entusiasmada com as visitas ilustres logo oferece a Pedro Wilson, um retrato do falecido marido, onde se lia: “Antonio Villa Nova, o herói de duas guerras”.


Reprodução da foto tirada em 1916.


Deslumbrado com a acolhida, Pedro Wilson atento começa a fotografar as figuras mais importantes para seu trabalho, não somente pessoas, mas também, suas armas, verdadeiras relíquias trazidas, por eles, do próprio campo de batalha da Guerra de Canudos.

Numa das poses, Honório, todo inchado, fez questão, de empunhar, a mesma “manulincher”, que usou para alvejar Moreira César, o coronel “Corta Cabeças”, comandante da malograda terceira expedição, que vergonhosamente, fugiu do campo da guerra. Despojo da debandada do exército, Honório, ainda, trazia consigo a espada tomada de um oficial, outras carabinas e cunhetes de balas, então resfriadas, que também foram fotografadas na oportunidade.





Honório Vila Nova e a cunhada Antonia Vila Nova viúva de Antônio Vila Nova.


Honório Vila Nova

Na fotografia abaixo Honório Vila Nova, altivo, agarra, com a mão direita, a mesma inseparável “manulincher” com a qual liquidou Moreira Cesar.
O fato aconteceu no momento da luta, em que, pretensiosamente, o militar pegou seu cavalo sob o propósito de dar brio aos seus soldados.
O velho não esquecia o momento que ao ver o coronel do outro lado do rio, ele Honório, em posição de tiro, dormiu na pontaria, e disparou o tiro certeiro que lhe atingiu a virilha. Se quisesse teria acertado direto no coração, acabar com a vida dele duma vez. Mas, preferiu lhe uma morte mais sofrida, fazê-lo sofrer, sentindo, no próprio corpo, a dor que ele imprimia ao povo que agredia, perversamente, em nome da República.
Esta arma e a de Antonio Vila Nova eram as únicas automáticas existentes em Canudos ao tempo do ataque de Moreira César. Ambas haviam sido tomadas da Expedição Febrônio de Brito juntamente com 14 cunhetes de balas, e foram as que, produtivamente enfrentaram o exército do “Corta-Cabeças”.

EXPEDIÇÃO ( HISTÓRICO DE MEMÓRIAS)


EXPEDIÇAO DE PEDRO WILSON MACIEL MENDES À CANUDOS
Mario Mendes Junior (*)

Da vida de Antonio Conselheiro ele pesquisava, anotava, e descobria tudo, não pela vaidade de ensinar, mas - como Capistrano de Abreu – pelo prazer, intimo e secreto de encher seu espírito de verdades.

Advogado, defensor dos humildes, jornalista combativo denunciador das falcatruas citadinas, o baturiteense Dr. Pedro Wilson Maciel Mendes, em 1949, temporariamente, largou o imediatismo das redações dos jornais para se aventurar na Ciência Histórica.

Cobiçava despir, de uma vez por todas, a figura de Antonio Vicente Mendes Maciel, o guia guerrilheiro da Guerra de Canudos, dos paradigmas pejorativos - gnóstico bronco, fanático religioso, taumaturgo, paranóico, santo homem e outros despautérios - não escapados, sequer, da concisão e maestria de Euclides da Cunha no OS SERTÕES.

Para a empreitada Pedro Wilson apercebeu ser indispensável percorrer os caminhos trilhados pelo líder antes e depois de se tornar o Conselheiro.
Em seguida convocou os amigos Osvaldo Vinhas, Sólon Mendes e Zequinha Pinto – todos desinteressados na matéria, mas sequiosos de aventuras, para com eles pegarem a estrada.

A empreitada começa no Quixeramobim, cidade túmulo de seus ancestrais que não se olvidam pelo jeito sangrento como morreram na terceira década do século IXX, por ocasião da guerra de família dos Maciéis contra os Araújos de Boa Viagem.


Prédio onde residiu e negociou Antonio Conselheiro -1856 1857
Quixeramobim 1949.


No Quixeramobim, Pedro Wilson entrevista o coronel Euclides Wicar de Paula Pessoa, amplo conhecedor da história da cidade e, por conseguinte, do Conselheiro.

Na oportunidade capta de Wicar informações sobre se antigo morador, Belo Flor, cantador repentista, falecido há dez anos, ex-aluno do Conselheiro, quando o mesmo deixou o negócio de Quixeramobim, em 1857, e passou a ensinar noções de conhecimento gerais na Escola da Fazenda Tigre, até se mudar pata Tamboril.


Cantador Repentista Belarmino Flor, um dos alunos da escola do “tigre”.
Foto de 1939 do arquivo de Euclides Wicar de Paula Pessoa

1939 Ruínas da Escola da Fazenda Tigre
Aqui lecionou Antonio Conselheiro depois que liquidou sua casa comercial de Quixeramobim -1857 1858.
Foto de 1939 do Arquivo de Euclides Wicar de Paula Pessoa
***

Em segundo passo a expedição se dirige à Fazenda Tigre, então pertencente ao comerciante, industrial e agro-pecuarista Damião Carneiro, que naquela época realizava inúmeros melhoramentos na propriedade. Na condição de cunhado de Mario Mendes, irmão de Pedro Wilson, o dono da fazenda, exercitando sua hospitalidade característica, conduz o visitante para fotografar a casa grande, fazenda, a igreja, as ruínas escola, e demais pontos apropriados para pesquisa.
No Tigre, Pedro Wilson se surpreende com o respeito de Damião pelas coisas históricas do lugar. Por isso, apesar das benfeitorias o fazendeiro, na verdade conservava intactos os lugares da fazenda que lembravam o Conselheiro.
Anos depois, por ocasião da construção do enorme açude da Fazenda Tigre, Damião Carneiro arrebanhou uma multidão de trabalhadores, para transportar, em lombos de um formigueiro de burros e jumentos uma verdadeira serra de terra, que depois de compactada, a custa de malhos, transformou-se na parede do reservatório. Aquela obra fantástica de engenharia campestre constitui a prova da fé em Deus do Sr. Damião Carneiro, porque, para levantar sua barragem, ele literalmente, ao seu modo, removeu montanhas.


SOLON MENDES E ZEQUINHA MACIEL PINTO ESCORADOS NAS DUAS DAS TRES FORQUILHAS DE AROEIRA, TUDO QUE RESTOU DO PRÉDIO DA ESCOLA DO TIGRE.



Juazeiro onde segundo os antigos do lugar, costumava o Conselheiro fazer a sesta. A vinte passos das forquilhas do prédio da escola de 1858.
( CONTINUA...)